Como o crime organizado afeta a economia nacional

Como o crime organizado afeta a economia nacional

Somente com o roubo de cargas, o País registra um prejuízo anual que ultrapassa R$ 1,2 bilhão. No ano passado, foram mais de 17,1 mil ocorrências, aumento de 4,8% na comparação com 2022.

Por: Renato Almeida

Índices alarmantes de violência estão expostos para quem quiser ver, seja no Rio de Janeiro, seja nos outros estados do País. Combater o crime organizado deve ser a prioridade dos governantes, fazendo uso da inteligência humana, como o Disque Denúncia, ou da inteligência de sinais e da tecnologia, para que os índices de criminalidade sejam reduzidos.

 

No dia 23 de outubro do ano passado, o Rio de Janeiro viveu mais um triste capítulo na crise da segurança pública, quando 35 ônibus e uma composição da Supervia foram incendiados por criminosos, na Zona Oeste da cidade. Os ataques foram feitos em represália à morte do sobrinho do maior líder da milícia – o Zinho – na Comunidade Três Pontes, durante uma operação policial, também na Zona Oeste. A ação orquestrada pelo miliciano deixou clara, lamentavelmente, a organização e a velocidade da resposta do crime organizado às ações policiais.

 

Diante deste cenário local e de tantas outras manifestações do crime organizado País afora, fica evidente o quanto a economia está fragilizada perante a insegurança e a violência, o que limita e atrasa seu crescimento. O crime organizado está espalhado por diversos setores: na construção civil, o que afeta diretamente questões ambientais, no comércio ilegal de bebidas, de cigarros e de produtos piratas, na distribuição de gás desviado da concessionária e na extorsão de comerciantes.

 

O crime organizado se beneficia de um “negócio” muito lucrativo. É o lucro do mal, aquele explorado por criminosos sobre cobrança de taxas de serviços e produtos e, portanto, cada vez mais disputado por facções criminosas e grupos de milicianos, com o objetivo final da conquista e do domínio de territórios.

 

A violência é um problema social e um obstáculo para o crescimento econômico no País. Para diminuir os prejuízos e atenuar a violência, empreendedores contratam empresas privadas de segurança ou a proteção de seguros para suas lojas, para que se sintam mais protegidos — mas acabam, dessa forma, desembolsando mais dinheiro.

 

O crescimento exponencial das organizações criminosas no Brasil demonstra que, atualmente, o objetivo final das facções, incluindo a milícia, é a conquista e defesa de territórios. Essa afirmação tem como base a situação atual da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde 59,7% da população reside em áreas dominadas por facções ou milícias, de acordo com a Universidade Federal Fluminense (UFF).

 

Em nível nacional, podemos mencionar o acolhimento de diversos criminosos de outros estados pela facção Comando Vermelho (CV). Essas facções estão adotando o modus operandi do Comando Vermelho e retornando a seu estado de origem buscando o domínio de novos territórios, expandindo o poder da facção carioca para alguns outros territórios do Brasil.

 

Moradores de comunidades são extorquidos e pagam taxas mensais às facções, que os obrigam a utilizar apenas os serviços oferecidos ilegalmente pelo crime, como o fornecimento de água, luz, TV a cabo, internet, gás e todos os serviços furtados das concessionárias. E não foi contabilizada a receita de vendas de drogas.

 

Pequenos ou grandes comércios, como farmácias, padarias, mercados e restaurantes, também são alvos de extorsão por parte de criminosos. Além de pagar taxas, são obrigados a comprar mercadorias provenientes do roubo de cargas.

 

Com essa receita mensal, que extrapola a casa de bilhões de reais, os criminosos fazem compra de armamentos pesados a fim de defender seu território e enfrentar o poder público, constroem barricadas e pagam propinas e subornos a agentes públicos e de concessionárias. Esse projeto que está sendo expandido pelo Brasil, já com reflexos em alguns países da América do Sul, como o Paraguai.

 

Apesar de os novos números mostrarem uma redução nos índices, em 2023 o País registrou mais de 17,1 mil roubos de cargas, um crescimento de 4,8% na comparação com o ano anterior. De acordo com os cálculos da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, o prejuízo anual ultrapassa R$ 1,2 bilhão.

 

Entre os tipos de cargas mais roubadas estão alimentos, combustíveis, produtos farmacêuticos, autopeças, cigarros, bebidas, eletroeletrônicos, pneus, materiais de construção, aços e mercadorias de e-commerce.

 

Só em 2022, o Brasil registrou prejuízo de R$ 453 bilhões com movimentações ilegais. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram que o dano foi causado por contrabando, pirataria, roubo, concorrência desleal por fraude fiscal, sonegação de impostos e furto de serviços públicos.

 

Esses números impactam diretamente a economia brasileira, afastando investidores e empresas estrangeiras. É necessária uma ação pública integrada para frear a expansão dessas organizações criminosas. As leis precisam ser revistas e, principalmente, ser cumpridas. Não é aceitável que um criminoso com diversas passagens pela polícia esteja na rua. É necessária uma ação das forças de segurança nas comunidades a fim de retomar o controle dos serviços de concessionárias que foram extorquidos pelos criminosos e de devolver o direito de ir e vir à população local.